Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% da população global convive com dor crônica – uma condição muitas vezes invisível, incapacitante e que impacta profundamente a qualidade de vida. Os dados divulgados em abril deste ano reforçam a necessidade de novas abordagens terapêuticas. Para Beatriz Jacob Milani, estudiosa da cannabis medicinal, os compostos derivados da planta, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), vêm se consolidando como uma alternativa segura e eficaz – quando bem indicados e acompanhados por profissionais – para quem vive com esse tipo de dor.
“Estamos diante de uma epidemia silenciosa. A dor crônica não é apenas um sintoma, mas uma condição complexa que interfere no sono, no humor, na produtividade e nas relações sociais. Os canabinoides atuam em diversos sistemas do organismo, oferecendo alívio com menor risco de efeitos colaterais quando comparados aos analgésicos convencionais”, explica Beatriz.
O que é dor crônica?
A dor crônica é caracterizada por uma sensação persistente de dor que dura mais de três meses. Pode estar associada a doenças como artrite, fibromialgia, endometriose, neuropatias, hérnias de disco ou ser consequência de traumas e cirurgias.
“Diferente da dor aguda, que tem causa e duração definidas, a dor crônica tende a resistir aos tratamentos tradicionais. É nesse cenário que a cannabis medicinal surge como uma ferramenta promissora”, afirma a especialista.
Como os canabinoides atuam no organismo
Os principais compostos da planta Cannabis sativa – como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) – interagem com o sistema endocanabinoide, que regula funções como dor, inflamação, sono e humor.
“O CBD atua na modulação da dor e da inflamação. Mas, principalmente quando falamos de dor crônica, o THC também desempenha um papel importante no alívio dos sintomas. É essencial que os pacientes entendam que não estamos falando só de CBD, mas de uma gama de canabinoides presentes na planta”, esclarece Beatriz.
Segurança e uso individualizado
Beatriz reforça que o uso medicinal da cannabis é seguro quando realizado com orientação médica e dentro dos parâmetros legais.
“O tratamento não deve ser feito por conta própria. A prescrição deve ser individualizada, com ajuste de doses e acompanhamento contínuo. Quando bem conduzido, o uso dos canabinoides pode ser um divisor de águas na vida de quem convive com dor constante”, pontua.
Informação como chave para superar o preconceito
Apesar dos avanços científicos e legais, o estigma ainda é um obstáculo para muitos pacientes que poderiam se beneficiar da terapia com cannabis.
“É urgente romper a associação entre o uso medicinal da planta e o preconceito. Estamos falando de ciência, de soluções concretas para quem já tentou de tudo. Informação e educação são ferramentas fundamentais para transformar essa realidade”, finaliza Beatriz Jacob Melani